sexta-feira, 27 de setembro de 2013

O campeonato em que o futebol é segundo plano

Ana Claudia Cichon

Amigos, churrasco, cerveja e futebol. Esta é a fórmula de sucesso da ImpedCopa, campeonato organizado desde 2009 pelo pessoal do Impedimento, site gaúcho sobre futebol e cultura sul-americana. “Sempre tivemos uma comunidade de leitores muito fieis e no começo de 2009 resolvemos marcar uma pelada semanal entre o pessoal que escrevia e os leitores, e tudo isso foi acertado na caixa de comentários do blog”, explica Douglas Ceconello, um dos editores do site.

Para fortalecer o objetivo de fraternidade, uma das regras do torneio é que os times são montados na hora, com pessoas que acabam de se conhecer, tanto que um dos jargões da competição é: “O único torneio que um time ganha e todos comemoram”.

Lema da ImpedCopa: "Quem tem amigos é sempre um vencedor"
Foto: Lucas Cavalheiro
Depois de quatro anos tentando participar, este ano Rodrigo Salvador reuniu mais três amigos de Curitiba e viajaram mais de 700 quilômetros para disputar a oitava edição da ImpedCopa. “Chegamos na sexta e fomos para um bar conhecer as pessoas, daquelas que só temos contato via Twitter. No sábado, antes das 13h já estava todo mundo lá, com camisas e pintando trapos. Só esperando a pelada do meio dia acabar. Bateu o sino da quadra e, imediatamente, LA CONCHA DE TU MADRE ALL BOYS. Neguinho correndo pendurar trapo e aquela loucura até começar. No primeiro jogo, já tem pouco espaço pra mais trapos, mas dali em diante a quantidade dobra mesmo assim”, conta.

Nesse clima de muita festa da torcida e dos jogadores, Rodrigo narra a experiência de disputar o torneio:

“Por jogar a segunda rodada e classificar em segundo, ficamos mais de duas horas sem jogar. Uma eternidade. Mas se a eternidade fosse carne, cerveja, gente legal, carne, corneta, cerveja, carne e carne, eu não teria do que reclamar. Quartas de final contra um time que eu não conhecia ninguém. Jogávamos pelo empate. Ganhamos de 1x0. Nossa defesa foi muito bem, e eu botei fé que a gente podia copar. Mas já tava no céu, era semifinal da ImpedCopa.

Virei pros dois outros defensores do time e falei pra eles: ‘Tá vendo aquela área ali? Ela é sagrada. Nenhuma bola pode pingar nela. Nenhuma! Se uma bola pingar na área, um panda fofo morre. Ouviu bem? Nenhuma bola pinga na área’. A única bola que pingou na área foi também a única falha do nosso goleiro no campeonato. A gente não tava pronto pra buscar resultado. Mas fomos loucamente pra cima e o gol saiu. Fomos pros pênaltis e eu, obviamente, não ia bater. Já tinha perdido outros pênaltis, não ia perder na ImpedCopa. ‘Quem bate?’ ‘Os três da frente’. Quando precisou da quarta cobrança, eu não ia bater. Nem a quinta. Mas nem precisou, nosso goleiro pegou (acho, nem vi direito) e a gente tava na final.

De novo, o discurso dos pandas fofos. E dessa vez, nenhum morreu. Começou o jogo, gol nosso. Gol na final é igual quadra invadida. Um milhão de pessoas comemorando o gol com a gente. A partir daí era segurar o resultado. Os caras atacando, a gente defendendo, a bola sobra limpa no pé do Rodrigo. Empurrado por trás, falta. O juiz não deu. Sobrou pra eles, gol. Quadra invadida, todo mundo comemorando e eu reclamando com o juiz, dali até o primeiro pênalti das cobranças. Bateríamos pênalti, mas era injusto. Todo mundo foi pra quadra ver as cobranças. Eu fui lá pro meio da quadra, de novo. Nervoso demais, sem chance de ficar perto. Nem ia bater mesmo. Primeiro pênalti, eles batem no meio, goleiro defende. Eu nem conseguia ver, era muita gente. Gol nosso. Gol deles, gol nosso, gol deles. Era fazer pra acabar. A bola foi, o goleiro foi. A bola foi um pouco mais. E de repente ela quicava no muro atrás do gol e voltava. O pedacinho de muro que foi o primeiro a saber que eu e os Patriotas de Tunja éramos campeões da ImpedCopa. Enquanto um bolinho se formava em cima do time, eu corria em volta do campo. Campeão, eu não sabia o que fazer fora correr para o meu time e abraçar todo mundo. E se passar milênios entre a bola quicando no muro e o momento em que eu aceitei que era campeão de um torneio que era, na verdade, uma desculpa pra um dia feliz. Que é, basicamente, o objetivo da vida”.

Este é um dos depoimentos que exemplificam o que é a ImpedCopa para os participantes. Douglas lembra ainda algumas histórias de torneios passados que valem ser contadas.

-  Na quinta edição, um costelão derreteu uma churrasqueira e foi resgatado com um monte de gente colocando a mão nas brasas.
-   Na segunda, um atleta que não pôde jogar deu a volta olímpica de muleta com seu time, que foi campeão.
-  Em uma edição, um jogador recebeu cartão amarelo, azul e vermelho na mesma jogada (afinal, existe competitividade, e a lenha muitas vezes está presente dentro do campo, apenas dentro).
-  Na última, o Rosa, habitual juiz, foi homenageado com um trapo (sim, é um torneio em que o juiz é celebrado, inclusive tomando cerveja e comendo churrasco depois do torneio).

Inspirado após a participação na ImpedCopa, Felipe Portes, da Total Football, resolveu organizar um torneio parecido, mas em São Paulo. A Copa Trivon Ivanov. “É mais pela confraternização e por reunir os amigos pra jogar futebol que motivou tudo isso. A gente tinha dificuldade em organizar uma pelada com todo o pessoal da internet aqui de SP, RJ, PR. Pondo isso num campeonato, acho que o burburinho acaba tornando a Copa Trifon Ivanov um evento prestigiado. E posso dizer que tem crescido pra caramba. Mas é uma versão paulista. Nossas regras, nosso pessoal”.O torneio acontecerá no próximo dia 5 de outubro, no Playball da Pompeia.

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